Em jeito de brincadeira...
Não é Louis Althusser, não é Bowles e Gintis, não é Baudelot e Estabelet, nem sequer Bourdieu e Passeron...
Pois é... é Eça de Queiroz
"A primeira vantagem da Universidade, como instituição social, é a separação que se forma naturalmente entre estudantes e futricas, entre os que apenas vivem de revolver ideias ou teorias e aqueles que vivem do trabalho. Assim, o estudante fica para sempre penetrado desta grande ideia social: que há duas classes - uma que sabe, outra que produz. A primeira, naturalmente, sendo o cérebro, governa: a segunda, sendo a mão, opera, e veste, calça, nutre e paga a primeira.
Dois mundos - como diz o nosso poeta Gavião - que se não podem confundir e que, vivendo à parte, com fins diferentes, caminham paralelamente na civilização, um com o título egrégio de Bacharel, outro com o nome emblemático de Futrica. Bachareis são os políticos, os oradores, os poetas, e, por adopção tácita, os capitalistas, os banqueiros, os altos negociadores.
Fruticas são os carpinteiros, os trolhas, os cigarreiros, os alfaiates. O Bacharel, tendo a consciência da sua superioridade intelectual, da autoridade que ela lhe confere, dispõe do mundo: ao Futrica resta produzir, pagar para que o Bacharel possa viver, e rezar ao Ser Divino para que proteja o Bacharel.
O Bacharel, sendo o Espírito, deve impedir que o Futrica, que é apenas a matéria, aspire a viver como ele, a pensar como ele, e, sobretudo, a governar como ele. Deve mantê-lo portanto no seu trabalho subalterno, que é o seu destino providencial. E isto porque um sabe e o outro ignora. Esta ideia de divisão em duas classes é salutar, porque assim, educados nela os que saem da Universidade não correm o perigo de serem contaminados pela ideia contrária - ideia absurda, ateia, destruidora da harmonia universal - de que o futrica pode saber tanto como sabe o Bacharel. Não. não pode: logo as inteligências são desiguais, e assim fica destruído esse princípio pernicioso da igualdade das inteligências, base funesca de um socialismo perverso."
Não é Louis Althusser, não é Bowles e Gintis, não é Baudelot e Estabelet, nem sequer Bourdieu e Passeron...
Pois é... é Eça de Queiroz
"A primeira vantagem da Universidade, como instituição social, é a separação que se forma naturalmente entre estudantes e futricas, entre os que apenas vivem de revolver ideias ou teorias e aqueles que vivem do trabalho. Assim, o estudante fica para sempre penetrado desta grande ideia social: que há duas classes - uma que sabe, outra que produz. A primeira, naturalmente, sendo o cérebro, governa: a segunda, sendo a mão, opera, e veste, calça, nutre e paga a primeira.
Dois mundos - como diz o nosso poeta Gavião - que se não podem confundir e que, vivendo à parte, com fins diferentes, caminham paralelamente na civilização, um com o título egrégio de Bacharel, outro com o nome emblemático de Futrica. Bachareis são os políticos, os oradores, os poetas, e, por adopção tácita, os capitalistas, os banqueiros, os altos negociadores.
Fruticas são os carpinteiros, os trolhas, os cigarreiros, os alfaiates. O Bacharel, tendo a consciência da sua superioridade intelectual, da autoridade que ela lhe confere, dispõe do mundo: ao Futrica resta produzir, pagar para que o Bacharel possa viver, e rezar ao Ser Divino para que proteja o Bacharel.
O Bacharel, sendo o Espírito, deve impedir que o Futrica, que é apenas a matéria, aspire a viver como ele, a pensar como ele, e, sobretudo, a governar como ele. Deve mantê-lo portanto no seu trabalho subalterno, que é o seu destino providencial. E isto porque um sabe e o outro ignora. Esta ideia de divisão em duas classes é salutar, porque assim, educados nela os que saem da Universidade não correm o perigo de serem contaminados pela ideia contrária - ideia absurda, ateia, destruidora da harmonia universal - de que o futrica pode saber tanto como sabe o Bacharel. Não. não pode: logo as inteligências são desiguais, e assim fica destruído esse princípio pernicioso da igualdade das inteligências, base funesca de um socialismo perverso."
Eça de Queiroz em O Conde de Abranhos.
João Martins
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