Sociologia na UAlg

27.10.05

Guerra Civil

A guerra está aí, todos os dias e sob muitas formas. Algumas delas começam a ser vislumbradas e denunciadas - como é o caso do sangrento morticínio que se repete nas estradas todos os dias.
Mas há outras formas - e mais insidiosas, endémicas e por isso mesmo mais eficazes também - de implicação da comunidade civil num permanente combate fratricida.
A Sociologia considera que cada comunidade funciona segundo mecanismos de integração e de antagonismo - e são estes últimos que, quando atingem pontos de saturação, despoletam a situação de guerra. Ora, os fenómenos de antagonismo multiplicaram-se através dos tempos e, por sobre isso, crescem hoje também em qualidade e intensidade, que já não só em quantidade. Basta pensar-se na infinidade de "comodidades" que o capitalismo moderno oferece a um mercado composto de pessoas com cada vez menos capacidade para de modo realista as alcançarem. A imensa oferta de bens (e serviços) gera o apetite difícil de controlar, quando não novas "necessidades" impossíveis de satisfazer. Enquanto assim nasce a frustração, estimulam-se a comparação, a emulação, a competição - e despontam ao lado a inveja, o despeito e, no epílogo, a agressividade. E a agressividade, germinada neste terreno de cultura da luta por poder, facilmente se destila em agressão.
Muitos outros são os focos do antagonismo social. Veja-se, para se pensar só no principal, que a vida começa para qualquer cidadão pela procura e obtenção de emprego. Para conseguir emprego há que vencer concursos - e o concurso é uma refinadíssima fonte de antagonismo: cada opositor é um obstáculo (pior: mais um obstáculo) a interpor-se entre o sujeito e o seu objectivo. Adicionado a este "caldeiro de brasas" o lastro, cada vez mais inflamado, da cunha-afilhadismo, o que temos? Um regimento de favorecidos armados de arrogante impunidade, frente a frente com uma multidão de injustiçados tomados do único sentimento em que são livres: a revolta. Mistura explosiva.
Pois é: a vida moderna e as modernas formas de turvar a ética com a conveniência adubam a pulsão antagonista e nervosa que germina no género humano. (...)

(anónimo)


 
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