Sociologia na UAlg

29.9.05

Portugal: uma sociedade em transição para a sociedade em rede

por Gustavo Cardoso
In http://www.presidenciarepublica.pt/network/apps/gustavocardoso.pdf


(conclusão do estudo)

A caracterização da sociedade portuguesa que se procurou realizar reflecte a
transição de uma população com escassos níveis de educação para uma sociedade onde as gerações mais novas atingiram já competências educacionais mais aprofundadas.
Esta análise reflecte também uma transição sócio-política, primeiro de uma
ditadura para uma politização institucional democrática e depois para uma rotinização da democracia. O que é acompanhado por um processo que combina um crescente cepticismo face aos partidos e às instituições de governo com uma acentuação da participação cívica a partir de formas autónomas e por vezes individualizadas de expressão da sociedade civil.
No início deste capítulo formulou-se uma pergunta sobre a existência ou não de
uma clivagem geracional na sociedade portuguesa. Os dados analisados confirmam essa clivagem. Mas não se trata de uma clivagem por opção, antes uma clivagem que resulta de uma sociedade onde os recursos cognitivos necessários estão distribuídos de modo desigual entre gerações. Só assim se pode explicar que entre os que nasceram até 1967 encontremos uma parcela de actores sociais que se aproximam em algumas dimensões de práticas, e por vezes representações, dos mais jovens. Essa proximidade é visível no facto de aqueles que possuem competências educacionais similares se aproximarem, por exemplo, na utilização da internet ou na sua perspectiva de valorização profissional.
A sociedade em que vivemos não é uma sociedade de cisão social completa.
Mas na sociedade em rede e nos modelos de desenvolvimento informacional há
competências cognitivas mais valorizadas do que outras, nomeadamente a escolaridade mais elevada, a literacia formal e as literacias tecnológicas. Todas elas são adquiridas e como tal não há lugar a uma inevitabilidade de cisão social. Antes existe um processo de transição em que os protagonistas são aqueles que dominam essas competências mais facilmente.
Ao mesmo tempo que se depara com esses múltiplos processos de transição, a
sociedade portuguesa conserva uma forte coesão social sobre uma densa rede de
relações sociais e territoriais. É uma sociedade que "muda e se mantêm coesa ao mesmo tempo. Evolui na sua dimensão global, mas mantém o controlo local e pessoal sobre aquilo que dá sentido à vida" (Castells, 2004b).
Portugal no início do século XXI permanecendo basicamente uma economia
proto-industrial, mas não se afirmou ainda como economia informacional. No entanto, há sinais claros de uma transição, embora ainda de carácter incipiente e de resultados ainda largamente em aberto.
É nesse contexto que se produz uma transição fundamental: a transição
tecnológica expressa por meio da difusão da internet e a aparição da sociedade em rede na estrutura e na prática social.


 
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