Sociologia na UAlg

29.12.05

Educação e cidadania

"A educação actual e as actuais conveniências sociais premeiam o cidadão e imolam o homem. Nas condições modernas, os seres humanos vêm a ser identificados com as suas capacidades socialmente valiosas. A existência do resto da personalidade ou é ignorada, ou se é admitida, é admitida somente para ser deplorada, reprimida ou, se a repressão falhar, sub-repticiamente rebuscada. Sobre todas as tendências humanas que não conduzem à boa cidadania, a moralidade e a tradição social pronunciam uma sentença de banimento. Três quartas partes do Homem são proscritas. O proscrito vive revoltado e comete vinganças estranhas. Quando os homens são criados para ser cidadãos e nada mais, tornam-se primeiro, em homens imperfeitos e depois em homens indesejáveis."

Thomas Huxley, 1825-1895

in 'Sobre a Democracia e outros estudos'

27.12.05

Excerto de um anúncio de emprego publicado na revista da Associação Americana de Antropologia:

«The CIA's Directorate of Intelligence (DI) is actively seeking Anthropologists, Sociologists, and Psychologists to assess psychological, social, organizational and contextual factors affecting the functioning of political, terrorist and criminal groups, as well as societies' responses to medical crises such as pandemics and mass migration (...)»

Retirado daqui http://valedealmeida.blogspot.com/

21.12.05

Natal à Beira Rio

É o braço do abeto a bater na vidraça?
E o ponteiro pequeno a caminho da meta!
Cala-te, vento velho! É o Natal que passa,
A trazer-me da água a infância ressurrecta.
Da casa onde nasci via-se perto o rio.
Tão novos os meus Pais, tão novos no passado!
E o Menino nascia a bordo de um navio
Que ficava, no cais, à noite iluminado...
Ó noite de Natal, que travo a maresia!
Depois fui não sei quem que se perdeu na terra.
E quanto mais na terra a terra me envolvia
E quanto mais na terra fazia o norte de quem erra.
Vem tu, Poesia, vem, agora conduzir-me
À beira desse cais onde Jesus nascia...
Serei dos que afinal, errando em terra firme,
Precisam de Jesus, de Mar, ou de Poesia?

David Mourão-Ferreira

19.12.05

Questões Prelimares sobre o Ofício do Sociólogo

(excerto da comunicação do prof. João Martins, no encontro Quatro anos: E agora?)


Sintetizando, para sermos breves, se como diz António Firmino da Costa (2001) de forma simplificada sobre o ofício de sociólogo, que “a sociologia é o que fazem os sociólogos”, poderíamos dizer. também de forma simplificada, que os problemas sociológicos são os problemas que os sociólogos colocam à realidade social.

Armados de diferentes esquemas de inteligibilidade do social, de diferentes paradigmas teóricos de análise, de conceitos, métodos e técnicas de recolha de dados, estes questionam o social a partir de um ponto de vista específico. Como refere Sausurre “é o ponto de vista que cria o objecto” e é este que acompanhado da arte da “imaginação sociológica” que leva o sociólogo à construção dos “bons” problemas sociológicos.´

Terminaria este “problema” dizendo que se os problemas sociológicos por ter na sua origem os ditos “problemas sociais”, a partir do momento em que eles são transformados em problemas de sociólogo, autonomizam-se em relação a esses mesmos “problemas” entrando noutra ordem de realidade, esta agora de carácter científico, que funciona numa lógica de compreensão explicativa do funcionamento do social e que nada tem que ver com os “problemas” anteriores”.

15.12.05

Quatro anos. E agora?




Um dia de reflexão e discussão sobre o curso de Sociologia na UAlg no âmbito do termino da Licenciatura dos primeiros alunos de Sociologia.

16 de Dezembro de 2005

Início às 9.30 da manhã, com comunicações de alguns docentes da disciplina, durante a manhã e reflexão acerca da licenciatura a partir da 14 horas.

Anfiteatro -1.B, da Faculdade de Economia da Universidade do Algarve.

9.12.05

Futuro comprometido...

Segundo o estudo "O futuro roubado - a corrupção nas salas de aula", da Transparency International (ONG), realizado em dez países - Argentina, Brasil, México, Nicarágua, Bósnia-Herzegovina, Serra Leoa, Níger, Zâmbia, Geórgia e Nepal -, a corrupção afecta os sistemas educativos.
O objectivo era estudar até que ponto a "corrupção na Educação mina de forma grave o desenvolvimento político, económico e social".
Huguette Labelle, presidente da TI, denuncia que "os pais mais pobres, em vez de pagar os subornos, escolhem alimentar a família, deixando uma geração sem educação escolar e perpetuando a armadilha da pobreza".
No Brasil, várias autarquias "perdem até 55 por cento dos subsídios federais para a Educação devido às fraudes" e no México algumas famílias têm de pagar 30 dólares (25 euros) às escondidas para conseguirem que os seus filhos tenham a cesso ao sistema educativo, em geral gratuito no país.

(dados: http://www.publico.clix.pt/shownews.asp?id=1241420&idCanal=74)

6.12.05

Movimentos sociais, democracia e ciberespaço

Elísio Estanque
Centro de Estudos Sociais - Universidade de Coimbra


O aumento imparável da mediatização das sociedades ao longo das últimas quatro décadas vem colocando novos desafios à expansão da esfera pública e da cidadania. Como sabemos, o exercício pleno da cidadania depende largamente da conjugação entre o papel dos média e a acção dos novos movimentos sociais, factores decisivos na consolidação das sociedades democráticas.
Se entendermos a democracia no seu sentido mais profundo, teremos de a conceber como um processo em que os diversos agentes e protagonistas do debate público contribuem para estender a esfera da cidadania – e portanto alargar as formas de intervenção cívica e política – para além da acção estritamente institucional. É assim que o papel dos média, por um lado, e o dos movimentos sociais, por outro, são elementos fundamentais desse processo. Reflexo do descontentamento das populações e comunidades, os movimentos sociais, embora podendo revelar um carácter mais espontâneo ou mais organizado, mais efémero ou mais permanente, são uma das principais formas de expressão da consciência crítica das sociedades e da sua capacidade de agirem sobre si próprias. Em diversas épocas e contextos históricos os movimentos sociais foram os principais promotores da mudança social e da ruptura política. Mas as suas capacidades de mobilização dependem sobretudo da visibilidade das iniciativas, pelo que, quer na fase de denúncia dos problemas em causa, quer perante as iniciativas e condições em que decorre a acção, a informação e divulgação por parte da comunicação social podem decidir o seu sucesso.
Pode estabelecer-se uma distinção entre movimentos de “velho” e de “novo” tipo, sendo que a ideia de “movimento” se situa no polo oposto à ideia de ordem ou “instituição”. Enquanto os velhos movimentos, como o movimento operário, pugnavam por uma nova ordem política (o socialismo) os chamados novos movimentos sociais (NMSs), que emergiram nos anos 60 no Ocidente, para além das bandeiras utópicas por que pautaram o seu discurso, tiveram uma incidência no imediato, pressionando os poderes e as instituições existentes, questionando as fronteiras entre o Estado e a sociedade civil. As lutas que conduziram pela defesa da causa ecológica, da paz, dos direitos das mulheres, do respeito pelas minorias, da democratização do ensino, etc., combinaram o radicalismo e por vezes a espectacularidade das acções com o sentido pragmático das metas a atingir e a atenção que prestaram ao papel dos média.
Na era da globalização em que hoje vivermos, os pólos global e local estão estreitamente articulados. Porém, se nos anos 60 e 70 do século passado se lançou o slogan “pensar globalmente, agir localmente”, neste início de milénio, talvez faça mais sentido inverter os termos e dizer que é preciso “pensar localmente e agir globalmente”, pois a fantástica capacidade e rapidez com que a comunicação circula no mundo permite com muito maior eficácia construir redes e estratégias de acção a partir do local, mas que rapidamente podem ganhar um impacto global. Os actuais movimentos e ONGs que lutam por uma globalização alternativa e solidária corporizam essas articulações e ajudam a construir novas formas de democracia participativa, de que a democracia representativa pode beneficiar, visto que ambas de complementam.
Neste processo, o “Ciberespaço” representa uma revolução digital e material, que contém uma infra-estrutura (as redes de computadores) em rápida expansão global e uma superestrutura (a realidade virtual) presente nos ecrãs dos computadores e da televisão. A criação de uma espécie de oportunidades de “Presidência doméstica sobre o Mundo Global”. O utilizador imerso num mundo de dados e informação é capaz de captar todos os saberes, viajar sem limites num espaço onde a realidade virtual é mais forte do que a realidade concreta. É uma hiperficção, ao mesmo tempo hiperrealista que permite a qualquer mortal realizar os sonhos burgueses mais ambiciosos. É uma imagem ideológica, invertida, de um mundo ficcionado, que se transforma numa fuga surreal às identidades fixas e aos constrangimentos e pressões do dia-a-dia, na vida doméstica, no emprego, nas instituições. Uma forma de “expulsar” das preocupações diárias os problemas do mundo real. Embora o mundo pareça possuir um sentido transparente. Esta espécie de “Ágora” electrónica é, mais do que uma utopia, é uma distopia, pois tem efeitos práticos, embora se trate de um mundo de ilusões/ficções ajuda a manter o poder dos que controlam o mundo.
A Internet e a televisão tornaram-se a “Ágora” electrónica em que as pessoas se sentem representadas, projectadas sem o risco da convivência ou experiência face-a-face. Tudo isto provoca a homogeneização cultural. Mas a cultura é a luta contra a uniformidade, é a diferença. Para alguns (Ritzer, 1995) a especificidade cultural, de regiões e países, está em risco, mas para outros a globalização produz, por um lado, homogeneidade, e por outro diversidade. São duas perspectivas e tendências opostas sobre o que está a acontecer. Os “média electrónicos” não são o ópio do povo (Appadurai, 1997), são um campo fértil de imaginação, criatividade, ironia, resistência selectiva.
Seja como for, o papel dos NMSs no aprofundamento da democracia passa pela sua capacidade de utilizar estes meios num sentido emancipatório. A luta por uma globalização mais humanizada e regulada de acordo com as exigências de justiça social é um requisito urgente para revigorar a democracia e promover o bem-estar social. E da capacidade de conjugar a acção dos novos meios electrónicos de comunicação com os movimentos da sociedade civil dependerá, em larga medida, o êxito dessa luta.

Investir (ou não) em conhecimento

Num tempo de mudanças drásticas,
são os que aprendem que irão possuir o futuro.
Eric Hoffer

Segundo a edição online do Público "As despesas de investigação e desenvolvimento (I & D) em Portugal recuaram 4,3 por cento por ano, em termos reais, entre 2001 e 2003, o que traduz o pior comportamento entre os países da União Europeia (UE), indica hoje o Eurostat."

Conhecidos e diagnosticados os problemas (quase com carácter crónico) das qualificações e competências dos portugueses e do seu tecido económico assistimos a um recuo do investimento público em I & D. Com alguma (ou mesmo bastante) perplexidade - e procurando entender os imperativos de redução do investimento público nesta área - produzem-se políticas votadas à inovação, competitividade económica, formação, etc.
Não valerá a pena, antes de reduzir o investimento neste domínio, pensar nas consequências do não investimento?

4.12.05

Voluntariado



É o conjunto de acções de interesse social e comunitário, realizadas de forma desinteressada por pessoas, no âmbito de projectos, programas e outras formas de intervenção ao serviço dos indivíduos, das famílias e da comunidade, desenvolvidos sem fins lucrativos por entidades públicas ou privadas. ( art.º 2.º da Lei n.º 71/98, de 3 de Novembro)

Comemora-se amanhã, 5 de Dezembro, o Dia Internacional do Voluntariado.
O Conselho Nacional para a Promoção do Voluntariado publicou um estudo de 2001 que refere que, em Portugal, existem 1,6 milhões de voluntários.
Cada vez mais dizemos 'tenho' ou 'quero', mas mais importante que tudo isso não será o que damos de nós aos outros?

2.12.05

E...

"Quando a vontade geral não é mais do que
a adição de caprichos particulares, então a
democracia metamorfoseia-se (...) em
tirania da opinião".
Jacques Julliard
"Quanta pobreza pode suportar a democracia?"
Ulrich Beck


 
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